A História da primeira Ronda Crioula e a criação da Chama
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Num ambiente em
que a sociedade negava hábitos, costumes e tradições gauchescas, ressurge o
sentimento de orgulho das coisas tradicionais que, a rigor, naquele momento
só tinham algum destaque quando a Brigada Militar reverenciava a figura do
General Bento Gonçalves da Silva, em solenidade que realizava a cada 20 de
setembro em frente ao monumento erguido na Av. João Pessoa, em Porto Alegre.
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No mês de agosto
de 1947, alguns estudantes do Colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre,
liderados por João Carlos D’Ávila Paixão Côrtes, fundaram um Departamento de
Tradições Gaúchas, junto ao Grêmio Estudantil. O Departamento destinava-se a
estimular o desenvolvimento cultural, por meio de reuniões sociais
recreativas. Era um movimento estudantil com alunos de diversas camadas
sociais e segmentos étnicos, que levantava-se em favor das tradições. O
objetivo era achar uma trilha diante da perda da fisionomia regional;
combater a descaracterização; reagauchar o Rio Grande. Em suma: procuravam a
identidade da terra gaúcha.
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Aprovada a idéia,
o Grêmio Estudantil do "Julinho", enviou a Imprensa da Capital, um
comunicado, cujo primeiro parágrafo dizia: "O Grêmio Estudantil Júlio de
Castilhos, sentindo a necessidade da perpetuação das tradições gaúchas,
fundou, aliando aos seus já numerosos Departamentos, o das Tradições Gaúchas,
procurando assim, preservar este legado imenso dos nossos antepassados,
constituído do amor à liberdade, grandeza de convicções representadas pelo
sentimento de igualdade e humanidade".
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No Departamento
de Tradições Gaúchas do Grêmio estudantil Júlio de Castilhos decidiram
realizar a "1ª Ronda Gaúcha", que logo passaria a ser chamada de
Ronda Crioula. Esta iniciou no dia 7 de setembro, com uma programação que se
estendeu até o dia 20 daquele ano de 1947.
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O programa previa
o acendimento de um Candeeiro Crioulo, o primeiro baile gauchesco que
aconteceu no Teresópolis Tênis Club, no dia 20 de setembro à noite, concursos
de trajes regionais, palestras, concurso literário e uma série de momentos
eqüestres. A decoração do local era feita de apetrechos campeiros (laços,
guampas, pelegos, ninhos de João-de-Barro) além de um fogo-de-chão, onde se
esquentava água para chimarrão e assava-se uma carne.
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Participam como
convidados especiais o jornalista e escritor Manoelito de Ornellas e o
desenhista de motivos campeiros e declamador gauchesco, Amândio Bicca. A eles
coube julgar os gaúchos e as prendas mais tipicamente vestidos, sendo que a
presença do ilustre historiador Manoelito de Ornellas, no baile, causou forte
impressão ao proferir um inflamado discurso às causas regionalistas,
manifestando sua crença naqueles jovens e nos objetivos a que se propunham
alcançar. À beira de um verdadeiro fogo-de-chão, mateando e tomando
café-de-chaleira, Barbosa Lessa ventilou a idéia de fundar uma agremiação
civil gauchesca. Iniciava-se aí o tradicionalismo como força viva popular.
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Esta Ronda Crioula
foi, na verdade, a precursora da Semana Farroupilha, oficializada somente 17
anos mais tarde, através da Lei Estadual 4.850, de 11 de dezembro de 1964.
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Paixão Côrtes,
que dirigia o Departamento foi procurar o Presidente da Liga de Defesa
Nacional e disse-lhe que gostaria de retirar uma centelha do Fogo Simbólico
da Pátria no momento da sua extinção no dia 7 de setembro e transportá-la até
o Colégio Júlio de Castilhos. Lá acenderia um candeeiro típico, num altar
cívico como parte das comemorações da Ronda Gaúcha, no que foi autorizado.
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Naquele ano de
1947, a Liga de Defesa Nacional, presidida pelo Major Darci Vignoli incluiu
na programação alusiva à Semana da Pátria, a transladação dos restos mortais
do General Farroupilha David Canabarro, de Sant’Ana do Livramento para o
Panteão da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, em Porto Alegre. Para
este acontecimento tão importante, entendeu o Major Vignoli que era do maior
significado cívico que a guarda de honra fosse composta por uma representação
de gaúchos tipicamente trajados, que traduzisse a alma da terra e o espírito
farroupilha. Pessoas que lembrassem os tempos gloriosos dos nossos
estancieiros e suas peonadas, que enfrentaram durante 10 anos todo o Império.
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Diante da
inexistência de uma representação com estas qualidades, o Presidente da Liga
solicitou ao Departamento de Tradições do "Julinho" um piquete de
gaúchos para montar guarda à urna com os restos mortais do grande Herói
Farrapo.
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Com muito custo
Paixão conseguiu mais cinco jovens para a empreitada, totalizando oito
componentes.
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Estava formado o
Piquete da Tradição, grupo esse que passaria para a história, no 1º Congresso
realizado em julho de 1954 em Santa Maria, quando foi batizado como o
"Grupo dos Oito".
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Próximo da
meia-noite do dia 7 de setembro de 1947, os jovens, João Carlos D’Ávila
Paixão Côrtes, Cyro Dutra Ferreira e Fernando Machado Vieira, devidamente
montados, aguardavam junto a Pira.
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Chegando o
momento da extinção do Fogo Simbólico da Pátria, foram chamados para a
retirada da centelha, conforme haviam acordado. Paixão Côrtes subiu ao topo
da Pira com um archote improvisado, feito de estopa embebida em querosene
presa a ponta de um cabo de vassoura e solenemente acendeu aquela que seria a
primeira Chama Crioula. Dali, os três cavaleiros, conduziram a galopito a
centelha até o "Julinho", onde acenderam o Candeeiro Crioulo.
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A Chama Crioula é
o fogo que simboliza fertilidade, calor, claridade, ardor, paixão,
hospitalidade e coragem. Simboliza, enfim, a Tradição Gaúcha. Representa o
gaúcho idealizado no espírito heróico dos Farroupilhas, com os ideais de
justiça e liberdade, visando a aproximação dos povos.
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JORGE LUIS GOMES DE CAMPOS
Diretor de Campeira da UTV –Gestão 2012